A ASES é uma associação de escritores da cidade de Santa Rosa / RS. Fundada em 16 de março de 2001 contribui significativamente para a cultura e a literatura de Santa Rosa e Região.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

INFORMATIVO MARÇO 2010

INFORMATIVO ASES MARÇO DE 2010




FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA



Estará sendo publicado até a data de 15/03/2010 o edital tornando publico as condições para inscrição dos projetos no FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA. Os projetos das entidades, pessoas físicas ou empresas serão detalhados em formulário próprio disponibilizado pelo Conselho Municipal de Cultura sendo necessário estarem em dia e legalizados perante o poder publico municipal, estadual, e nacional e os projetos devem se enquadrar nas finalidades detalhadas na Lei Municipal nº 4.529, de 20 de maio de 2009 que trata do Conselho Municipal de Cultura e do Fundo Municipal de Cultura.

E-mail do Conselho Municipal de Cultura: conselhodecultura.cmc@gmail.com



COLETÂNEAS

Até segunda-feira estaremos recebendo os ultimo textos para as coletâneas EXPRESSÃO LIVRE e TERRA, GRÃOS E PERSPECTIVAS cujos lançamentos estão previstos para 18/04/2010(EXPRESSÃO LIVRE) e 01/052010(TERRA, GRÃOS E PERSPECTIVAS). Por impossibilidade de tempo para diagramação este tempo não será mais distendido.



SARAU CULTURAL



Estaremos formalizando os últimos convites para as entidades amigas que participarão do SARAU CULTURAL EXPRESSÃO LIVRE. No final da semana que vem realizaremos uma reunião com representantes das diversas variantes de expressão artistíca para encaminhar alguns detalhes de organização. Para participar com algum número é só entrar em contato com a ASES no e-mail ases.rs@gmail.com ou 55 91654219. Contamos com todos em sua livre manifestação de criatividade e vanguarda artística.



CARTAS LITERÁRIAS



Não esqueçam de dar andamento ao projeto cartas literárias. A troca de correspondência estimulada visando o debate de ideias, conceitos, etc para futuramente transformar-se em coletânea literária.



CARTEIRINHA DE SÓCIO



Será disponibilizada aos sócios em dia com a tesouraria carteirinha de associado trazendo reconhecimento ao escritor santa-rosense e visando também estabelecer descontos e benefícios aos associados. Comerciantes e prestadores de serviço que desejem fidelizar esta importante parcela de nossa sociedade,os escritores e escritoras locais, com descontos ou outras formas de benefícios podem entrar em contato visando estabelecer esta importante e saudável parceria.



REUNIÃO



No dia 05/03/2010 a ASES estará realizando as 18:00 horas nas dependências da Biblioteca Publica Municipal Olavo Bilac mais uma de sua reuniões ordinárias mensais e estamos abertos a participação de todos e todas que queiram assistir ou contribuir com ideias, projetos ou outras formas de intervenção dentro do campo de atuação de nossa entidade. Todos e todas serão muito bem vindos.



POETA DO MÊS



PATATIVA DO ASSARÉ



Compositor, poeta e improvisador

Patativa do Assaré era o nome artístico (pseudônimo) de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré (estado do Ceará). Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina.

Vida e obras

Dedicou sua vida a produção de cultura popular (voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino). Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista.



Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.



Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém ficou poucos meses nos bancos escolares. Nesta época, começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos. Ganhou da mãe uma pequena viola aos dezesseis anos de idade. Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade.



Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade. Nesta época, começou a viajar por algumas cidades nordestinas para se apresentou como violeiro. Cantou também diversas vezes na rádio Araripe.



No ano de 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias “Inspiração Nordestina”. Com muita criatividade, retratou aspectos culturais importantes do homem simples do Nordeste. Após este livro, escreveu outros que também fizeram muito sucesso. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras.



Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua cidade natal.



Livros



· Inspiração Nordestina - 1956

· Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa -1967

· Cante Lá que Eu Canto Cá - 1978

· Ispinho e Fulô - 1988

· Balceiro. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 1991

· Cordéis - 1993

· Aqui Tem Coisa - 1994

· Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré - 2000

· Balceiro 2. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 2001

· Ao pé da mesa – 2001

Alguns poemas de sua autoria:

O BURRO



Vai ele a trote, pelo chão da serra,

Com a vista espantada e penetrante,

E ninguém nota em seu marchar volante,

A estupidez que este animal encerra.



Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,

Sem dar uma passada para diante,

Outras vezes, pinota, revoltante,

E sacode o seu dono sobre a terra.



Mas contudo! Este bruto sem noção,

Que é capaz de fazer uma traição,

A quem quer que lhe venha na defesa,



É mais manso e tem mais inteligência

Do que o sábio que trata de ciência

E não crê no Senhor da Natureza.



AOS POETAS CLÀSSICOS

Poetas niversitário,

Poetas de Cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia;

Se a gente canta o que pensa,

Eu quero pedir licença,

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês.



Eu nasci aqui no mato,

Vivi sempre a trabaiá,

Neste meu pobre recato,

Eu não pude estudá.

No verdô de minha idade,

Só tive a felicidade

De dá um pequeno insaio

In dois livro do iscritô,

O famoso professô

Filisberto de Carvaio.



No premêro livro havia

Belas figuras na capa,

E no começo se lia:

A pá — O dedo do Papa,

Papa, pia, dedo, dado,

Pua, o pote de melado,

Dá-me o dado, a fera é má

E tantas coisa bonita,

Qui o meu coração parpita

Quando eu pego a rescordá.



Foi os livro de valô

Mais maió que vi no mundo,

Apenas daquele autô

Li o premêro e o segundo;

Mas, porém, esta leitura,

Me tirô da treva escura,

Mostrando o caminho certo,

Bastante me protegeu;

Eu juro que Jesus deu

Sarvação a Filisberto.



Depois que os dois livro eu li,

Fiquei me sintindo bem,

E ôtras coisinha aprendi

Sem tê lição de ninguém.

Na minha pobre linguage,

A minha lira servage

Canto o que minha arma sente

E o meu coração incerra,

As coisa de minha terra

E a vida de minha gente.



Poeta niversitaro,

Poeta de cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia,

Tarvez este meu livrinho

Não vá recebê carinho,

Nem lugio e nem istima,

Mas garanto sê fié

E não istruí papé

Com poesia sem rima.



Cheio de rima e sintindo

Quero iscrevê meu volume,

Pra não ficá parecido

Com a fulô sem perfume;

A poesia sem rima,

Bastante me disanima

E alegria não me dá;

Não tem sabô a leitura,

Parece uma noite iscura

Sem istrela e sem luá.



Se um dotô me perguntá

Se o verso sem rima presta,

Calado eu não vou ficá,

A minha resposta é esta:

— Sem a rima, a poesia

Perde arguma simpatia

E uma parte do primô;

Não merece munta parma,

É como o corpo sem arma

E o coração sem amô.



Meu caro amigo poeta,

Qui faz poesia branca,

Não me chame de pateta

Por esta opinião franca.

Nasci entre a natureza,

Sempre adorando as beleza

Das obra do Criadô,

Uvindo o vento na serva

E vendo no campo a reva

Pintadinha de fulô.



Sou um caboco rocêro,

Sem letra e sem istrução;

O meu verso tem o chêro

Da poêra do sertão;

Vivo nesta solidade

Bem destante da cidade

Onde a ciença guverna.

Tudo meu é naturá,

Não sou capaz de gostá

Da poesia moderna.



Dêste jeito Deus me quis

E assim eu me sinto bem;

Me considero feliz

Sem nunca invejá quem tem

Profundo conhecimento.

Ou ligêro como o vento

Ou divagá como a lêsma,

Tudo sofre a mesma prova,

Vai batê na fria cova;

Esta vida é sempre a mesma.



O VAQUEIRO

Eu venho dêrne menino,

Dêrne munto pequenino,

Cumprindo o belo destino

Que me deu Nosso Senhô.

Eu nasci pra sê vaquêro,

Sou o mais feliz brasilêro,

Eu não invejo dinhêro,

Nem diproma de dotô.



Sei que o dotô tem riquêza,

É tratado com fineza,

Faz figura de grandeza,

Tem carta e tem anelão,

Tem casa branca jeitosa

E ôtas coisa preciosa;

Mas não goza o quanto goza

Um vaquêro do sertão.



Da minha vida eu me orgúio,

Levo a Jurema no embrúio

Gosto de ver o barúio

De barbatão a corrê,

Pedra nos casco rolando,

Gaios de pau estralando,

E o vaquêro atrás gritando,

Sem o perigo temê.



Criei-me neste serviço,

Gosto deste reboliço,

Boi pra mim não tem feitiço,

Mandinga nem catimbó.

Meu cavalo Capuêro,

Corredô, forte e ligêro,

Nunca respeita barsêro

De unha de gato ou cipó.



Tenho na vida um tesôro

Que vale mais de que ôro:

O meu liforme de côro,

Pernêra, chapéu, gibão.

Sou vaquêro destemido,

Dos fazendêro querido,

O meu grito é conhecido

Nos campo do meu sertão.



O pulo do meu cavalo

Nunca me causou abalo;

Eu nunca sofri um galo,

pois eu sei me desviá.

Travesso a grossa chapada,

Desço a medonha quebrada,

Na mais doida disparada,

Na pega do marruá.



Se o bicho brabo se acoa,

Não corro nem fico à tôa:

Comigo ninguém caçoa,

Não corro sem vê de quê.

É mêrmo por desaforo

Que eu dou de chapéu de côro

Na testa de quarqué tôro

Que não qué me obedecê.



Não dou carrêra perdida,

Conheço bem esta lida,

Eu vivo gozando a vida

Cheio de satisfação.

Já tou tão acostumado

Que trabaio e não me enfado,

Faço com gosto os mandado

Das fia do meu patrão.



Vivo do currá pro mato,

Sou correto e munto izato,

Por farta de zelo e trato

Nunca um bezerro morreu.

Se arguém me vê trabaiando,

A bezerrama curando,

Dá pra ficá maginando

Que o dono do gado é eu.



Eu não invejo riqueza

Nem posição, nem grandeza,

Nem a vida de fineza

Do povo da capitá.

Pra minha vida sê bela

Só basta não fartá nela

Bom cavalo, boa sela

E gado pr’eu campeá.



Somente uma coisa iziste,

Que ainda que teja triste

Meu coração não resiste

E pula de animação.

É uma viola magoada,

Bem chorosa e apaxonada,

Acompanhando a toada

Dum cantadô do sertão.



Tenho sagrado direito

De ficá bem satisfeito

Vendo a viola no peito

De quem toca e canta bem.

Dessas coisa sou herdêro,

Que o meu pai era vaquêro,

Foi um fino violêro

E era cantadô tombém.



Eu não sei tocá viola,

Mas seu toque me consola,

Verso de minha cachola

Nem que eu peleje não sai,

Nunca cantei um repente

Mas vivo munto contente,

Pois herdei perfeitamente

Um dos dote de meu pai.



O dote de sê vaquêro,

Resorvido marruêro,

Querido dos fazendêro

Do sertão do Ceará.

Não perciso maió gozo,

Sou sertanejo ditoso,

O meu aboio sodoso

Faz quem tem amô chorá

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